Como Combater o Grande Vilão: Endogamia/Inbreeding
- Luiza

- 8 de mar. de 2020
- 3 min de leitura
Atualizado: 16 de mar. de 2020
O principal pilar da nossa criação é a busca pela saúde. Essa busca se dá por diversas frontes. Uma delas, que iremos tratar nesse texto, corresponde ao estímulo à variedade genética e o combate ao Inbreeding/Endogamia.
Mas pera aí, o que é isso?
O Inbreeding ou Endogamia ou consanguinidade é o método de acasalamento que consiste na união entre indivíduos aparentados, geneticamente semelhantes. Em humanos, os casos famosos se deram nas dinastias de faraós do Egito e nas famílias reais europeias.
Já em cães, um certo grau de endogamia/inbreeding é pré-requisito para a criação de uma raça. Afinal, uma raça é definida pela semelhança (física e de temperamento) entre seus indivíduos e a previsibilidade de características. Isso é alcançado devido ao parentesco entre eles. Ou seja: todos os cães de uma mesma raça, não importa o quão distantes pareçam ser, já são "primos".
Após entendermos o conceito do inbreeding, precisamos entender os problemas que ele traz.
Em 2008, um documentário muito famoso, chamado Segredos do Pedigree, foi lançado pela BBC. Nele, foram expostas diversas condições de saúde de cães de raça participantes da Crufts, a maior exposição do Reino Unido.
Esse documentário argumenta pela crueldade que é propositalmente reproduzir problemas de saúde, que geram sofrimentos imensos tanto para o cão quanto para sua família, e esclarece que a causa destes é a endogamia.
Para "manter o padrão" e obter sucesso nas exposições, o caminho mais fácil é o inbreeding, que em poucas gerações cristaliza características físicas. O outro lado disso é que, além de manter e melhorar os critérios pedidos pelos juízes de exposição, também traz à tona doenças recessivas, além de reduzir a diversidade genética, o que por si só já é deletério à saúde.
Voltando a seres humanos, nos exemplos que eu citei anteriormente: o Rei Carlos II, da Espanha, filha de um tio e uma sobrinha, nasceu raquítico, quase louco, impotente e com outras doenças como epilepsia - além de possuir o célebre maxilar proeminente dos Habsburgos - uma afecção chamada de prognatismo mandibular - característica da endogamia familiar, que o impedia de comer bem e atrasou o desenvolvimento da sua fala. Também morreu jovem. Todos os seus bisavós eram filhos de um só casal, o que é bem comum em pedigrees caninos.
Apesar de extensas evidências científicas, grande parte da criação de cães de raça ainda é dominada por mitos e estímulos à endogamia.
Como criadoras de Border Collies, e, além disso, de linhagens voltadas à função ao invés da aparência, estamos um pouco fora da curva na tendência ao Inbreeding. Ou seja, as linhagens de nosso interesse já costumam ter um inbreeding abaixo daquele de cães voltados à exposição. Mesmo assim, pela razão que disse no começo (todos os cães de uma raça já são parentes), combatemos a ferro e a fogo a endogamia e os males que ela traz.
O principal meio de evitar as consequências terríveis do Inbreeding é, em cada acasalamento e aquisição do canil, buscar a "abertura" de linhas. Isto é, buscar as combinações de cães que sejam parentes em uma porcentagem mínima.
As ferramentas que utilizamos para verificar isso são os testes genéticos, como Embark e My Dog DNA, que apresentam, de formas distintas, dados sobre a repetição de genes no DNA do cão, e o Anadune, que usa uma base de dados para calcular um COI, o Coeficiente de Inbreeding.
O COI é uma ferramenta matemática para calcular o inbreeding. Para o nosso tipo de criação, de Border Collies de trabalho e companhia, estabelecemos que, além de quanto menor melhor, o máximo de COI pelo Anadune que desejamos seria de 5%.
Um exemplo no nosso canil dessa busca pela redução da endogamia é que nossas atuais três cadelas são todas filhas de cães importados, ou seja, cuja genética não se encontrava no país. Summer, filha de um pai holandês (COI de 2% pelo Anadune), Nix, de uma mãe russa (COI de 3% pelo Anadune), e Pandora, de um francês (COI de 1% pelo Anadune). Os três cruzamentos dos quais elas nasceram são clássicas aberturas de linhagens.
Além disso, buscaremos sempre continuar essa tendência nos futuros cruzamentos das meninas e em futuras aquisições do canil. Fiquem de olho!
PS: Há, ainda, muito a se discutir sobre Inbreeding e condições genéticas deletérias. Para manter o texto breve e didático, busquei resumir e deixar os outros tópicos para novas publicações do canil.




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